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Novidades para tratamento da Lipoproteina(a)

Alguns meses atrás escrevi sobre esse biomarcador de risco – a lipoproteina(a). Hoje em dia, na prática medimos esse risco, mas não tinha muito opção para reduzir o risco. O determinante do seu nível é principalmente genético e não piora ou melhor dependendo do estilo de vida.

Novas terapias estão sendo propostas para resolver esse problema. Duas opções são injetáveis – técnicas que agem no núcleo da célula impedindo a formação da lipoproteina e agora está sendo pesquisada uma opção via oral – o muvalaplin. Todas as opções parecem ser seguras e reduzem a lipoproteina(A) em até 60 a 100%.

Resta descobrir se além de reduzir o número, se essas medicações de fato reduzem o risco da doença cardiovascular e estenose aórtica. Enquanto isso não for demonstrado, nenhuma dessas medicações estará disponível.

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Tem problema o LDL ficar baixo demais?

As mais novas diretrizes de manejo de colesterol recomendam alvos cada vez menores de LDL colesterol. Para pacientes que já tiveram infarto ou um derrame o alvo de LDL é de 70 ou até 55mg/dL. Para atingir esses alvos o uso de um único princípio ativo (monoterapia) muitas vezes é inadequado. Mas, felizmente, temos múltiplas medicações hoje em dia para reduzir o LDL-colesterol e essas medicações podem ser usadas em combinações. Combinações de medicações como estatinas, ezetimibe, ácido bempedoico, inibidores monoclonais de pcsk-9 para atingir esse objetivo. Com essas combinações estamos atingindo os alvos recomendados muito bem obrigado.

No entanto, além de atingir os alvos, estamos chegando em níveis baixos de colesterol. Será que seriam baixos demais? Passamos então a nos perguntar se isso é seguro. O LDL-colesterol abaixo de 50 é denominado de baixo e quando abaixo de 20 é denominado de extremamente baixo. O lado positivo é que ao atingir esse níveis há interrupção de progressão de placas de gordura nos vasos sanguíneas e até se constata a redução dessas placas. Mas o lado ruim é que existem preocupações sobre LDL-colesterol baixo. A favor da segurança desses níveis, temos que o valor do LDL-colesterol em recém nascidos é de 30-40mg/dL. O estudo Júpiter encontrou um aumento da incidência de diabetes, doenças biliares e insônia em pacientes que atingiram com LDL menor que 30. O estudo SPARCL viu um aumento de sangramento cerebral. Um estudo com alirocumab não encontrou qualquer evento negativo neurocognitivo em pacientes com LDL que atingiram 15mg/dL. Uma metanálise – um estudo que reune vários estudos para tentar tirar uma conclusão maior – reuniu 10 estudos e mais de 100.000 pacientes (doi: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36102667/). Essa análise não encontrou qualquer incidência aumentada dos efeitos adversos e mostrou que há benefício cardiovascular. O problema dessa análise é que o tempo médio desses pacientes no estudo foi de 2 anos e 4 meses. É possível que com tempos mais prolongados de estudos possa surgir efeitos colaterais de redução extremamente intensa do LDL-colesterol.

Acredito que não há graves problemas de pacientes atingirem essa faixa extremamente baixa de colesterol temporariamente; mas, por enquanto, manteria meus pacientes mais próximos a 50mg/dL do que mais baixo.

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A evidência científica na definição da conduta médica

Muitas vezes, os tratamentos médicos mais atraentes são aqueles que parecem novos, modernos e inovadores. No entanto, nem sempre esses tratamentos são baseados em evidências científicas sólidas e, em alguns casos, podem até ser prejudiciais à saúde.

 
 

A busca pela saúde e beleza pode levar muitas pessoas a buscar tratamentos que prometem resultados rápidos e milagrosos. Infelizmente, muitos desses tratamentos são prescritos por médicos sem formação ou por interesse comercial do médico. Oferecem terapias sem evidência científica, colocando em risco a saúde e segurança dos pacientes.

A soroterapia realizada em consultório, por exemplo, é uma dessas terapias sem evidência. Ela consiste na aplicação de soro fisiológico ou solução salina, vitaminas e outros medicamentos em uma sessão de soroterapia. Não há evidência científica que comprove benefício dessa terapia em consultório. Existe sim o uso de reposição de água livre ou sódio, por exemplo, mas esses pacientes tem acometimentos graves com necessidade de atendimento em departamento de emergência.

Outro exemplo é o uso indiscriminado de testosterona. Muitos médicos prescrevem esse hormônio para aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho físico. No entanto, o uso de testosterona pode causar sérios efeitos colaterais, como infertilidade, aumento do risco de câncer de próstata e problemas cardíacos. O implante de chip da beleza é outra terapia sem evidência que tem sido oferecida. Esse chip é supostamente capaz de melhorar a aparência e reduzir a gordura corporal. No entanto, não há evidências científicas que comprovem a eficácia desse tratamento e ele pode colocar em risco a saúde do paciente. Múltiplas sociedades médicas e o CFM se posicionaram contra esses tratamentos.

Essas atitudes representam uma ameaça séria à saúde pública. São tratamentos sem evidência científica que colocam em risco a vida e a saúde dos pacientes. É importante que os pacientes procurem profissionais de saúde qualificados e com registro nos órgãos reguladores, como o Conselho Federal de Medicina, e sempre busquem informações sobre a eficácia e segurança dos tratamentos prescritos.

A importância da evidência científica

A evidência científica é o que garante que um tratamento médico é eficaz e seguro para uso em pacientes. Quando um tratamento é submetido a estudos clínicos randomizados e controlados, é possível determinar se ele realmente funciona e quais são seus efeitos colaterais potenciais.

Os tratamentos que passam por esses estudos e são comprovados por meio de evidências científicas sólidas são geralmente aprovados por órgãos reguladores, como a ANVISA no Brasil e a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, para uso em pacientes. Isso significa que eles foram considerados seguros e eficazes o suficiente para serem recomendados como opções de tratamento.

Os benefícios das terapias médicas com evidência

As terapias médicas com evidência científica são aquelas que foram estudadas e comprovadas por meio de estudos clínicos rigorosos e revisões de especialistas. Embora possam não parecer tão atraentes ou modernas quanto outras opções de tratamento, essas terapias são importantes porque têm uma base sólida de evidências para apoiá-las. Na verdade, grande parte do impacto médico sobre a saúde dos pacientes é através de recomendações que poderiam ser consideradas sem graça e pouco atraentes e que todos conhecem: a mudança de estilo de vida, ou seja, melhorar alimentação, perda de peso, parar de fumar, moderar o consumo de álcool e a atividade física.

Os benefícios das terapias médicas com evidência incluem:

  • Eficácia comprovada: esses tratamentos foram estudados em ensaios clínicos rigorosos e demonstraram ser eficazes no tratamento de doenças e problemas de saúde específicos.

  • Segurança comprovada: os tratamentos com evidência científica foram submetidos a testes rigorosos de segurança, e seus riscos e efeitos colaterais potenciais são conhecidos.

  • Regulamentação: terapias médicas com evidência científica são frequentemente aprovadas por órgãos reguladores, o que significa que foram avaliadas por especialistas em segurança e eficácia.

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Porque existe o check-up cardiológico?

O papel do médico nem sempre é o de cuidar de doentes e tratar suas doenças. A promoção de saúde é até mais importante. Algumas especialidades são mais ligadas nessa vertente do que outras. Melhor do que curar uma doença é não tê-la.

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Entendendo o escore de cálcio.

A aterosclerose é um processo inflamatório que ocorre nas artérias do coração, geralmente entre as idades de 20 e 30 anos. Fatores genéticos e estilo de vida, incluindo dieta, atividade física, tabagismo e peso corporal, podem contribuir para esse processo. Com o tempo, placas de gordura e cálcio se acumulam nas paredes das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e aumentando o risco de infarto.

 
 

A detecção de cálcio nas artérias coronárias pode ser realizada por meio de tomografia, permitindo uma avaliação precisa da quantidade de aterosclerose. Isso ajuda a determinar o risco de um paciente ter um infarto e morrer. As estatinas são frequentemente prescritas para reduzir esse risco, mas nem todos os pacientes se beneficiam delas.

Para aqueles com fatores de risco, mas sem sintomas cardíacos, a avaliação do escore de cálcio pode ser útil para determinar se o processo de aterosclerose está ocorrendo e se o uso de estatinas é justificado. Pessoas com escore de cálcio zero apresentam risco muito baixo e não precisam de estatinas. Para aqueles com escore acima de 100, a aterosclerose está avançada o suficiente para justificar o uso de estatinas.

A decisão de prescrever estatinas para pacientes com escore de cálcio entre 0 e 100 depende da idade e de outros fatores de risco. Outros fatores que contribuem para a avaliação de risco incluem lipoproteína (a), apoB, proteína C reativa, condições inflamatórias crônicas, insuficiência renal crônica, síndrome metabólica, história de pré-eclâmpsia e menopausa precoce.

O objetivo da avaliação do escore de cálcio é determinar o risco cardiovascular de forma mais precisa, para auxiliar na mudança do estilo de vida e prescrição adequada de medicamentos que possam aumentar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.

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Lipoproteina(a): para que serve?

A lipoproteína A (também conhecida como Lp(a) é uma fusão de uma partícula similar ao LDL e a apolipoproteina(a). Estudos demonstram que a Lp(a) está associada a um aumento do risco de doença cardiovascular, e é um fator de risco adicional que não está diretamente relacionado ao colesterol LDL. Seu nível de Lp(a) é determinado principalmente por fatores genéticos e é recomendado que seja medido pelo menos uma vez. Um nível de risco elevado é acima de 50ng/mL ou 100nmol/L.

Diferentemente de outros fatores de risco, a mudança de estilo de vida não tem efeito na diminuição dos níveis de Lp(a). As estatinas, medicação comum para abaixar o colesterol, também não são eficazes em reduzir a Lp(a). No entanto, uma medicação injetável chamada alirocumab tem sido utilizada para abaixar os níveis de LDL, incluindo a Lp(a). Embora ainda não se saiba se isso trará benefícios reais ao paciente, é promissor.

Outra opção é a aférese de lipoproteína, um procedimento de filtragem de sangue que remove partículas de colesterol. Esse procedimento deve ser realizado semanalmente e, na Alemanha, foi aprovado para alguns pacientes, diminuindo o risco de doença cardiovascular.

A medição da Lp(a) pode ajudar a intensificar as medidas de controle do LDL-colesterol para pacientes com níveis elevados. Portanto, é importante considerar a medição da Lp(a) para pacientes com risco aumentado de doença cardiovascular.

Você já mediu seus níveis de Lp(a)?

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Sedentarismo: um risco para a saúde

Como a falta de atividade física pode afetar sua saúde e o que fazer para mudar isso

A modernidade permite que possamos fazer muitos trabalhos produtivos sem esforço físico considerável ou atividade braçal. Muitas pessoas conseguem passar, portanto, a maior parte do tempo sentados englobando tanto o trabalho quanto lazer.

Em 2010, a Organização Mundial de Saúde colocou o sedentarismo como o quarto maior fator de risco para mortalidade. O sedentarismo é responsável por 6% do acúmulo de gorduras nas artérias do coração, 7% do diabetes, 10% de câncer de mama e 10% de câncer de intestino. Esse relatório estima que se o sedentarismo fosse reduzido em 10%, poderiam se adiar 533000 mortes por ano.

Se a atividade física é o mais próximo que temos da "fonte da juventude", o sedentarismo é um fator de risco para obesidade, resistência à insulina, desenvolvimento de diabetes, doenças cardíacas, doenças pulmonares, demência e câncer, só para citar algumas das consequências.

Enquanto a sociedade como um todo deve adotar medidas para melhorar esse quadro, cada um de nós individualmente deve cuidar de si mesmo e estimular nossos próximos a se cuidarem. Os benefícios são inúmeros, e isso sem contar o que sentimos cada vez que praticamos atividade física e a sensação de bem-estar que vem com o condicionamento físico. Adotar hábitos saudáveis pode parecer difícil, mas é possível e pode fazer toda a diferença na sua qualidade de vida.

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Descubra como a atividade física pode ser a fonte da juventude

No século XVI, Ponce de Léon procurou a fonte da juventude pelo Caribe e pela Flórida. O relato seria que “A sua nascente seria sombreada por várias magnólias gigantescas, que, embora com muitos séculos de vida, mantinham-se frescas pelas virtudes desta água maravilhosa” (Nathaniel Hawthorne).

Os espanhóis procuraram por todo rio, ribeirão, lago ou lagoa e não encontraram a tão desejada fonte. Apesar disso, descobriu-se que a atividade física pode ser a fonte da juventude mais próxima que temos, e está acessível a todas as pessoas.

 
 

Estudos mostram que a prática regular de atividade física pode manter idosos com reflexos, memória e equilíbrio melhores em comparação a idosos sedentários, sem perda de massa muscular ou força e sem aumento no conteúdo de gordura ou colesterol. A atividade física também pode melhorar o desempenho do sistema imunológico.

Não existe nenhuma terapia, medicação ou tratamento capaz de afastar a degeneração crônica de nossos tecidos, mas a atividade física pode ser uma forma de prevenir muitas doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardíacas, doenças pulmonares, demência e câncer.

Por isso, é importante estimular a prática regular de atividade física em todas as idades. Praticar atividade física é a tão sonhada fonte de juventude.


Referências:

Pollock et al (2018). ‘Properties of the vastus lateralis muscle in relation to age and physiological function in master cyclists aged 55 – 79 years’.

Duggal et al (2018). ‘Major features of Immunesenescence, including Thymic atrophy, are ameliorated by high levels of physical activity in adulthood.’

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Entenda: Quais os Riscos do Consumo Excessivo de Açúcar

O açúcar é um ingrediente muito presente em nossa rotina diária, desde o açúcar no café e suco até em receitas, refrigerantes e produtos industrializados. Porém, será que é tão benigno assim?

 
 

Dados do estudo NHANES americano mostram que refrigerantes com açúcar aumentam o risco de desenvolver diabetes e morrer de uma doença cardíaca. O consumo de duas porções de refrigerante açucarado por dia pode ter risco 35% maior de acúmulo de gordura nas artérias, em comparação a quem toma refrigerante uma vez por mês, segundo o Nurses' Health Study.

A recomendação da OMS é que o açúcar não ultrapasse 10% das calorias consumidas por dia, o que vem de um estudo publicado no periódico internacional JAMA. O estudo mostrou que o açúcar acima de 10% de calorias por dia está associado a um aumento do risco de morte. Se você consome 23% das calorias vindas do açúcar, seu risco de morte é o dobro de quem consome menos de 10% de açúcar. Ou seja, quanto mais açúcar, pior.

Para reduzir o risco de morrer de uma doença cardíaca, a melhor recomendação com açúcar é cortá-lo dos hábitos na medida do possível, consumir cada vez menos e prestar atenção nos alimentos e bebidas que compramos. A OMS recomenda não ultrapassar 150 calorias de açúcar por dia, o que equivale a cerca de 4 colheres de sopa, e inclui todo o açúcar, não apenas o que acrescentamos no cafézinho. Lembre-se: uma lata de coca-cola tem cerca de 40g de açúcar. Além de aumentar a insulina no sangue e a chance de pressão alta, o açúcar também aumenta o LDL, triglicerídeos e proteína C reativa, sendo um fator de risco para diversas doenças.

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Recomendações para Atividade Física em Pacientes com Insuficiência Cardíaca

Você sabe se quem tem insuficiência cardíaca pode praticar atividade física? Por muitos anos, a recomendação era de que pacientes com "coração fraco" evitassem atividades físicas. No entanto, com o tempo, isso se provou uma recomendação ruim, já que a falta de atividade física pode levar a um descondicionamento físico e piora da circulação, além de impactar negativamente o bem-estar geral.

 
 

Na verdade, estudos mostram que a atividade física aeróbica e resistida é segura e pode melhorar significativamente a qualidade de vida de pacientes com insuficiência cardíaca. Essa prática também pode ajudar a reduzir o risco de internação pela condição.

O treinamento aeróbico é ideal para mover grandes grupos de músculos por períodos prolongados, o que pode reduzir a gordura intramuscular e melhorar a funcionalidade muscular, promovendo efeitos anabólicos. Já o treinamento dinâmico resistido é mais focado em áreas de músculos localizadas, aumentando a massa muscular e a força. Equipamentos como pesos livres, máquinas de exercício, elásticos e exercícios contra o peso do corpo podem ser utilizados.

Antes de começar, é fundamental que o paciente com insuficiência cardíaca esteja em condições estáveis e com as medicações otimizadas ou em processo de otimização. Se houver piora da condição, como aumento da falta de ar, é importante consultar o cardiologista. Além disso, uma avaliação basal é necessária para conhecer a intensidade segura da atividade física que pode ser realizada. O teste de exercício cardiopulmonar é um exame comum que pode ser utilizado para esse fim.

Por fim, é importante lembrar que as avaliações periódicas devem ser realizadas para acompanhar a insuficiência cardíaca e que uma reavaliação é necessária antes de aumentar a intensidade da atividade física. Com essas precauções, pacientes com insuficiência cardíaca podem desfrutar dos muitos benefícios da atividade física.

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Qual a quantidade ideal de atividade física?

Porque atividade física?

Atividade física é fundamental para uma vida saudável e pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, complicações e mortalidade. Quanto mais atividade física, maior os benefícios. A recomendação da sociedade europeia de cardiologia é que adultos pratiquem de 150 a 300 minutos de atividade física moderada por semana, ou de 75 a 100 minutos de atividade física intensa. Mesmo se você não conseguir atingir essas recomendações, qualquer atividade física é melhor do que nada, pois o comportamento sedentário aumenta o risco de doenças crônicas e morte.

 
 

Para quantificar a intensidade da atividade física, é possível usar a frequência cardíaca máxima, que depende da idade. A fórmula é 220 - idade. Por exemplo, a frequência cardíaca máxima para quem tem 40 anos é 180 bpm. A atividade física leve é caracterizada por atingir de 57 a 63% da frequência cardíaca máxima e permitir falar normalmente. A atividade física moderada atinge de 64 a 76% da frequência cardíaca máxima e permite falar frases completas. Já a atividade física intensa atinge de 77 a 95% da frequência cardíaca máxima e a respiração é laboriosa, não permitindo conversar confortavelmente.

Criar o hábito de atividade física é um fator associado a melhor qualidade de vida, redução de riscos cardiovasculares e um envelhecimento saudável. Por isso, é fundamental encontrar uma atividade que seja proveitosa e possa ser incluída na rotina diária, como caminhada, corrida, bicicleta ou futebol. Fazer ambos os tipos - aeróbico e de resistência - é associado a menores riscos cardiovasculares. Lembre-se: as recomendações de atividade física são apenas 2% da semana, e podem fazer toda a diferença na sua saúde e bem-estar.

Exemplos dessas quantidades de exercício são por exemplo:

  • 3 sessões de 60 minutos de atividade física moderada por semana

  • 2 sessões de 30 minutos de atividade física intensa e uma corrida de pelo menos 15 minutos por semana

  • Atividade física moderada por uma hora de segunda a sexta.


Atividade física leve

Exemplos: caminhada, serviço de casa

Você atinge 57-63% da sua frequência cardíaca máxima e consegue falar normalmente durante a atividade física.

Se for alguém de 20 anos de idade, isso significa um máximo de 126bpm.

 

Atividade física moderada

Exemplos: caminhada em um passo forte (5km/h); bicicleta a 15km/h; tênis em dupla.

Você atinge 64-76% da sua frequência cardíaca máxima e respira mais rápido mas ainda consegue falar frases completas

Se for alguém de 30 anos de idade, isso significa um máximo de 144bpm.

 

Atividade física intensa

Exemplos : corrida; natação; tênis simples

Você atinge 77-95% da sua frequência cardíaca máxima. A respiração é laboriosa. Não é possível conversar com alguém confortavelmente.

Se for alguém de 40 anos de idade isso significa um máximo de 171bpm


Atividade física ser a diferença entre autonomia na velhice ou de precisar ser cuidado. Criar o hábito e mantê-lo por toda a vida é um dos fatores associados a melhor qualidade de vida, redução de riscos cardiovasculares e um envelhecimento saudável.

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Como a saúde mental ajuda na prevenção de doença cardiovascular

Em um determinado ano aproximadamente um terço da população terá algum distúrbio mental. Como um grupo, os distúrbios mentais estão associados a doença cardiovascular e redução da expectativa de vida. Esse grupo inclui: distúrbios de ansiedade, distúrbios de somatização, abuso de substâncias, transtornos de personalidade, distúrbios de humor e distúrbios psicóticos.

 
 

Como falamos em um postagem passada, o contrário também é verdadeiro: o início de doença cardiovascular também aumenta o risco em 2 a 3 vezes o risco de desenvolver um distúrbio mental comparado a população geral.

A associação não tem um mecanismo claro. Provavelmente influencia uma estilo de vida menos saudável, mais exposição a estressores socioeconômicos e efeitos no metabolismo cardiovascular das medicações. Existe ainda evidência de efeito direto no sistema defesa-medo baseado na amígdala cerebral. Além disso tudo, o distúrbio mental pode prejudicar a capacidade do paciente buscar ajuda e ter regularidade nos retornos médicos. Mesmo entre os profissionais de saúde pode haver estigma no tratamento de pacientes com distúrbios mentais.

Esse agrupamento de distúrbios mentais é bastante diversificado e apresenta perfis muitos diferentes. Ainda assim como um todo, esses pacientes se beneficiam de:

  • Apoio e atenção para melhorar adesão à medidas de mudanças de estilo de vida e tratamento medicamentoso

  • Tratamento multidisciplinar

  • Manejo de estresse psicoterapeutico

Distúrbios mentais são muito comuns. É preciso estar atento. O cardiologista deve tentar reconhecer sinais mas os próprios pacientes devem trazer isso na consulta. O reconhecimento pode contribuir para um tratamento diferenciado e resultados melhores.

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Chegou a hora do omega 3?

É moda prescrever omega 3 para os pacientes com o pensamento de que seria algo saudável e reduziria risco cardiovascular. Omega 3 é um ácido graxo do tipo poli-insaturado. Um ácido graxo é um óleo que é longa cadeia de átomos de carbono que podem ser saturados com hidrogênio ou incompletamente saturados. No caso do omega 3 o nome especifica que o terceiro carbono é um desses carbonos insaturados. Existem três tipos de ácidos graxos ômega 3 envolvidos na fisiologia humana: o ácido linoleico, o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexenóico (DHA). O primeiro é encontrado em fontes vegetais enquanto os dois últimos em algas e peixes.

 
 

Estudos com omega 3

A hipótese que a suplementação de omega 3 tem benefício cardiovascular já foi estudada em múltiplos estudos e nunca comprovada.

Em 2018, uma equipe de Oxford estudou a suplementação de omega 3 em mais de 15000 diabéticos. Diabéticos já tem um potencial de doença cardiovascular maior que a população geral. Esse estudo forneceu omega 3 para uma metade dos participantes do estudo e azeite para a outra metade. Não foi comprovado nenhum benefício do omega 3. Em 2019 um estudo da Harvard apresentou um estudo em homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 55 anos. Nesse estudo com 25000 pacientes, novamente, não foi encontrado benefício do omega 3. Em 2020 o estudo STRENGTH foi publicado com mais de 13000 pacientes com alto risco cardiovascular e pela terceira vez nenhum benefício foi encontrado.

Em todos esses estudos o omega 3 utilizado era proveniente de óleo de peixe constituindo-se de uma combinação do EPA e DHA.

Uma pista

Uma pista foi descoberta em um estudo pequeno com 150 pessoas. Nesse estudo os participantes revezaram consumir EPA purificado e DHA purificado. Quando estavam consumindo DHA purificado foi constatado um aumento do LDL colesterol – o colesterol chamado de ruim. Isso não aconteceu durante o consumo de EPA puro.

Um outro estudo pequeno – EVAPORATE – com 80 pacientes ofereceu EPA puro para metade dos pacientes ( a outra metade recebeu placebo). Após um ano e meio de uso, os pacientes fizeram tomografia que mostrou que as placas de gordura do corpo reduziram no grupo que usou EPA. No grupo placebo as placas aumentaram.

Estudos com EPA

No Japão um estudo com mais de 18000 pacientes ofereceu EPA puro para metade dos pacientes e placebo para a outra metade. O grupo EPA teve uma redução de 19% de doenças cardiovasculares (isso inclui infarto e morte por infarto).

Mais recente o estudo REDUCE-IT com mais de 8000 pacientes ofereceu EPA puro para metade dos pacientes e óleo mineral para a outra metade. Todos os pacientes usavam medicação para abaixar colesterol em doses modernas. Foi constatado uma impressionante redução de 25% de doenças cardiovasculares.

As evidências indicam que um tipo específico de omega 3 – o ácido eicosapentaenóico – oferecido em uma forma altamente purificado, o etil icosapente, finalmente demonstrou benefício. Uma das explicações para as falhas anteriores seria o efeito do DHA aumentar o colesterol ruim. A oferta dos dois tipos de omega 3 associados então teria um efeito neutro pois o benefício do EPA seria balanceado pelo efeito negativo do DHA.

O etil icosapente é comercializado no Estados Unidos e na Europa como Vascepa/Vazkepa. No Brasil, por enquanto, apenas por importadores de medicação.

Sim, chegou a hora do EPA e esperamos que logo esteja disponível no Brasil. Enquanto isso, parem de tomar o omega 3 clássico.

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Saude mental e cardiovascular

 

Estudos de associação mostram que a saúde mental e a saúde cardiovascular estão ligadas. As associações ocorrem nas duas direções:

Nos pacientes que tiveram um infarto do coração, existe um aumento do risco de desenvolver depressão do que na população geral. Nos pacientes com depressão existe maior risco de ter doença cardiovascular e os desfechos são piores do que nos pacientes sem depressão. Quanto mais grave a depressão, maior o risco de doenças cardiovasculares e de mortalidade.

As razões para essas associações não são claras, assim como tentar apontar relação de causa e efeito. Depressão poderia ser apenas um marcador de doença cardiovascular grave?

Podemos apontar para alguns fatores como maior dificuldade de começar e manter mudança de estilo de vida durante a depressão. A própria depressão após infarto seria um transtorno de ajustamento?

No final das contas, não basta buscar apenas parte de sua saúde, é muito importante buscar a saúde do coração e mental juntos para ter o melhor resultado.

 
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É possível ter mais de um infarto?

Sim.

Quem já teve um infarto do coração não está imune ou protegido de ter um outro. Pelo contrário, todas as condições necessárias para a ocorrência do infarto já estão comprovadamente presentes – o acúmulo de placas de colesterol nas artérias do coração; a erosão ou a quebra dessa placa; a formação de um coágulo obstruindo por completo a artéria e a morte e fibrose de uma parte do músculo do coração. Quem já teve um infarto tem maior predisposição a ter outro do que quem nunca teve. O tratamento de quem já teve um infarto envolve vários aspectos – cuidar do stent que muitas vezes é implantado na artéria entupida; melhorar a força do coração que pode ter sido prejudicado pelo infarto e além disso prevenir a ocorrência de um novo infarto. Isto se chama prevenção secundária. As ferramentas para prevenção secundária são até mais efetivas do que para prevenção primária mas é necessário colocá-las em prática.

A prevenção pode ser feita de várias maneiras e a atitude de cada um em adotar hábitos de vida mais saudáveis (não fumar, praticar atividade física regular, ter uma dieta saudável, manter o peso ideal) é fundamental.

A prevenção também envolve controlar a pressão arterial, o açucar e o colesterol no sangue com hábitos de vida saudáveis mas também medicações se for o caso.

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Qual a relação do seu peso com sua pressão arterial?

Temos uma má notícia e uma boa notícia sobre esse assunto. A má notícia é que quanto maior seu peso, maior será sua pressão arterial.

A boa notícia é que as evidências de vários estudos mostram que se você perder peso, você reduzirá sua pressão arterial. Para cada 1 kg que você perde, sua pressão cai 1 mmHg. Portanto, para quem usa antihipertensivos, dependendo da sua perda de peso corporal, isso pode significar retirar medicações para controlar a pressão e até eventualmente ficar com nenhum antihipertensivo.

Um antihipertensivo típico reduz a pressão arterial em torno de 10 a 15 mmHg. Isso seria comparável a atingir uma perda de 10 a 15kg. Nesse ponto, provavelmente, poderá ser possível reduzir os seus antihipertensivos.

Lógicamente, perde peso é importante não apenas pela melhora da pressão arterial, mas também por todos os outros benefícios - como melhor da concentração de açucar no sangue, controle do colesterol e a melhora estética (que também tem sua importância.

Perder peso é um desafio importante por todos as dificuldades que existem. A mudança de estilo de vida deve ser implementada de uma forma consciente e que seja incorporado naturalmente ao dia a dia. Existem vários profissionais que podem lhe ajudar nesse objetivo. Querer perder peso não pode ser encarado como algo que necessita apenas de força de vontade. É necessário ser profissional e usar todos os recursos disponíveis hoje em dia para obter êxito.

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Chocolate e Coração

O chocolate é feito com cacau, um composto que contém em catequinas, epicatequina, proantocianidinas e teobromina. Esses dois primeiros compostos são antioxidantes.

Por um lado, postula-se que o cacao poderia até ter um efeito benéfico em nossa saúde.  Por outro lado, chocolates tem alto conteúdo de gordura e açucar - classificados como doces - que devem ser restringidos em uma dieta saudável.

Uma pesquisa de 2020 encontrou 27 estudos com 1 milhão de participantes avaliando o efeito do chocolate em nossa saúde. Quando a taxa de morte foi analisada não houve benefício ou malefício do consumo de chocolate. Não houve aumento ou diminuição de infarto do coração. Houve uma redução de 13% do risco de desenvolver diabetes tipo 2 para quem consome no máximo 10g por dia de chocolate. No entanto, mais do que essa quantidade é associado a aumento do risco de desenvolver diabetes.

Há ainda um estudo de Harvard, publicado na revista HEART, que aponta que uma ou mais porções diárias de chocolate amargo reduz em 16% o risco de fibrilação atrial (batimentos descompassados e na maioria das vezes acelerados), tipo mais comum de arritmia cardíaca.

Você consumiu muito chocolate nesta Páscoa? 🍫

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O que é a trombose?

O nosso corpo tem um sistema para interromper sangramentos. Toda vez que há uma ferida no corpo com rompimento de uma veia, artéria ou um capilar (uma “veia” muito pequena) isso inicia um sistema que promove a coagulação do sangue. Isto se chama trombose, promove o fechamento do ferimento e impede o sangramento.

Trânsito servindo de analogia para uma artéria bloqueada.

O problema é quando esse sistema se ativa em um vaso intacto dentro do nosso corpo. Haverá um obstrução e impedimento para a passagem de sangue.

Isto pode ocorre nas artérias do coração ou do cérebro. Pode ocorrer também nas veias profundas da perna mas falamos disso em outra postagem. As razões que levam isto a acontecer são o rompimento ou erosão de placas de gordura, fluxo lento do sangue ou vaso adoecido. Como se fosse um ferimento, o sistema de coagulação vai se ativar iniciando o processo de trombose.

As consequências variam conforme o local onde ocorre. Se for nas artérias do coração pode provocar o infarto do coração. Interromperá a passagem de sangue e parte do músculo do coração fica sem sua nutrição e em algumas horas evolui para a morte desse tecido. Se for nas artérias do cérebro pode provocar o derrame (ou acidente vascular cerebral isquêmico). Interromperá a passagem de sangue levando a morte de uma parte do cérebro com perda de funcionalidade (por exemplo, movimento de um braço).

Prevenir a ocorrência de trombose é um problema complexo. A melhor prevenção é impedir em primeiro lugar a formação das condições que propiciam a trombose – controlar a pressão arterial, impedir a formação de placas de gordura nas artérias, controlar o açúcar no sangue, controlar o colesterol ruim e aumentar o bom e não fumar. Quando o risco de trombose é maior, o seu médico pode lhe indicar medicações antitrombóticos como a aspirina. Existe um cálculo de risco benefício que é feito – de um lado a prevenção de trombose e do outro o risco de sangramento. Toda medida feita para reduzir o risco de trombose aumenta em algum grau o risco de trombose. A medicação é então oferecida sempre quando o benefício é maior que o risco.

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Envelhecimento

O processo de envelhecer é algo pouco compreendido.

Nossa maquinária corporal é uma obra prima que vai nos mantendo viva – e foi construída pela seleção natural. E esse é o elemento chave – todos os genes que contribuem com o aumento de chances do sucesso da nova geração (filhos e em menor grau os netos) significa que aqueles genes são mantidos. Tudo além disto não tem seleção. Portanto, envelhecer é a quebra aleatória dos mecanismos celulares – não é algo fisiológico. Minhas células e tecidos começam a degenerar gradativamente e isso é o envelhecimento.

Essa área – a senescência celular – é uma área fascinante e de enorme potencial. Até hoje é muito pouco explorada e ainda sem possibilidades terapêuticas.

Mas, de prático, o que temos para hoje? Para manter a nossa saúde e nossa qualidade de vida devemos nos manter ativos e condicionados fisicamente e isto ajuda e muito nesse processo de envelhecimento.

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Julio Marchini Julio Marchini

3 Fatos sobre os antihipertensivos

Sabemos que os números altos de pressão predizem o acúmulo de placas de gordura nas artérias de nosso corpo, aumento de risco de infarto, doença do rim e derrame cerebral.

Fato 1

Usamos antihipertensivos para que os números da nossa pressão fiquem reduzidos. Mas isso é parte da história e poderia não significar nada. Muito mais importante é que os antihipertensivos tem o benefício de reduzir consistentemente o risco de infarto, de derrame e de doença do rim.

Fato 2

O antihipertensivo não é uma cura para a pressão alta mas sim um controle da pressão – então não é uma medicação que será usada por curtos períodos de tempo. A maior parte das pessoas tem a chamada hipertensão essencial. Isso significa que não há uma causa que possa ser tratada. Nesses casos, a medicação para pressão será usada por muitos anos e até décadas.

Fato 3

Os remédios da pressão não "viciam" e são seguros para uso prolongado.

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