Chegou a hora do omega 3?
É moda prescrever omega 3 para os pacientes com o pensamento de que seria algo saudável e reduziria risco cardiovascular. Omega 3 é um ácido graxo do tipo poli-insaturado. Um ácido graxo é um óleo que é longa cadeia de átomos de carbono que podem ser saturados com hidrogênio ou incompletamente saturados. No caso do omega 3 o nome especifica que o terceiro carbono é um desses carbonos insaturados. Existem três tipos de ácidos graxos ômega 3 envolvidos na fisiologia humana: o ácido linoleico, o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexenóico (DHA). O primeiro é encontrado em fontes vegetais enquanto os dois últimos em algas e peixes.
Estudos com omega 3
A hipótese que a suplementação de omega 3 tem benefício cardiovascular já foi estudada em múltiplos estudos e nunca comprovada.
Em 2018, uma equipe de Oxford estudou a suplementação de omega 3 em mais de 15000 diabéticos. Diabéticos já tem um potencial de doença cardiovascular maior que a população geral. Esse estudo forneceu omega 3 para uma metade dos participantes do estudo e azeite para a outra metade. Não foi comprovado nenhum benefício do omega 3. Em 2019 um estudo da Harvard apresentou um estudo em homens com mais de 50 anos e mulheres com mais de 55 anos. Nesse estudo com 25000 pacientes, novamente, não foi encontrado benefício do omega 3. Em 2020 o estudo STRENGTH foi publicado com mais de 13000 pacientes com alto risco cardiovascular e pela terceira vez nenhum benefício foi encontrado.
Em todos esses estudos o omega 3 utilizado era proveniente de óleo de peixe constituindo-se de uma combinação do EPA e DHA.
Uma pista
Uma pista foi descoberta em um estudo pequeno com 150 pessoas. Nesse estudo os participantes revezaram consumir EPA purificado e DHA purificado. Quando estavam consumindo DHA purificado foi constatado um aumento do LDL colesterol – o colesterol chamado de ruim. Isso não aconteceu durante o consumo de EPA puro.
Um outro estudo pequeno – EVAPORATE – com 80 pacientes ofereceu EPA puro para metade dos pacientes ( a outra metade recebeu placebo). Após um ano e meio de uso, os pacientes fizeram tomografia que mostrou que as placas de gordura do corpo reduziram no grupo que usou EPA. No grupo placebo as placas aumentaram.
Estudos com EPA
No Japão um estudo com mais de 18000 pacientes ofereceu EPA puro para metade dos pacientes e placebo para a outra metade. O grupo EPA teve uma redução de 19% de doenças cardiovasculares (isso inclui infarto e morte por infarto).
Mais recente o estudo REDUCE-IT com mais de 8000 pacientes ofereceu EPA puro para metade dos pacientes e óleo mineral para a outra metade. Todos os pacientes usavam medicação para abaixar colesterol em doses modernas. Foi constatado uma impressionante redução de 25% de doenças cardiovasculares.
As evidências indicam que um tipo específico de omega 3 – o ácido eicosapentaenóico – oferecido em uma forma altamente purificado, o etil icosapente, finalmente demonstrou benefício. Uma das explicações para as falhas anteriores seria o efeito do DHA aumentar o colesterol ruim. A oferta dos dois tipos de omega 3 associados então teria um efeito neutro pois o benefício do EPA seria balanceado pelo efeito negativo do DHA.
O etil icosapente é comercializado no Estados Unidos e na Europa como Vascepa/Vazkepa. No Brasil, por enquanto, apenas por importadores de medicação.
Sim, chegou a hora do EPA e esperamos que logo esteja disponível no Brasil. Enquanto isso, parem de tomar o omega 3 clássico.