Contemplando a mudança de estilo de vida

Cada vez mais reconhecemos que múltiplos acometimentos que levam a doenças crônicas degenerativas tem origem em padrões de comportamentos. Desde hipertensão e diabetes que são fatores conhecidos para acúmulo de placas de gordura nas artérias do corpo, passando por doenças neurológicas como Parkinson e Alzheimer, e doenças como Depressão e ansiedade e até a fragilidade do Idoso todas são condições que são moduladas pelos padrões de comportamento.

Esses padrões incluem principalmente a alimentação, a atividade física rotineira, o peso corporal, vícios como tabagismo e consumo de álcool e o estresse.

Quando contemplamos mudar nosso padrão de vida precisamos realmente entender o que isto vai envolver e qual vai ser o benefício.

Ninguém é obrigado a tomar nenhum desses passos. Mas é importante entender o que está em jogo.

Na medicina sempre trabalhamos com probabilidade. Para uma previsão perfeita talvez fosse necessário conhecer não somente o estado atual de cada célula e molécula do corpo assim como modelos de interação de acordo com padrões diferentes de comportamento. Isto não parece ser possível em um futuro próximo ou a longo prazo. Portanto, temos modelos de previsão que contém certa imprecisão. Dependendo de alguns fatores conhecidos como idade, sexo, níveis de colesterol por exemplo, podemos fazer uma previsão do risco - ou chance - que você tenha um infarto do coração (veja no episodio 2!) ou derrame cerebral. Quando temos hábitos de vida não saudáveis - como por exemplo sedentarismo e alimentação ruim - esses riscos serão maiores.

Se não mudarmos nossos hábitos isso significa manter esses riscos elevados. Probabilidade é como um sorteio cósmico. Pode não acontecer, mas quanto maior o risco maior a chance de acontecer. Aquelas histórias que todos conhecemos de exceções a essas regras - são exatamente isso, apenas exceções e que chamam atenção por serem incomuns. Por exemplo, aquela pessoa que faz tudo errado e que chega ao 90 anos de idade com a mente lúcida e sem infarto - é como alguém que joga na loteria e sempre tem sorte de ganhar. Não é uma boa estratégia. E se deu certo para uma pessoa, para a maioria das pessoas não haverá um resultado tão bom. Da mesma maneira, talvez também vamos conhecer aquele outro sujeito que sempre foi um modelo da geração saúde e com a melhor alimentação fit e que tem um infarto ou hemorragia cerebral jovem. De novo, se trata de alguém com risco mínimo, mas ainda pode acontecer. Pascal dizia que na medicina como no amor, nem sempre nem nunca. Esses exemplos extremos não devem guiar nossa estratégia ou servir de desculpa para nada fazer.

Portanto nessa proposta que lhe faço de contemplar mudança de estilo de vida você deve fazer a escolha de forma consciente. É uma escolha querer não fazer nenhuma mudança de estilo de vida desde que cada um conheça que está mantendo o seu risco aumentando para doenças cronico-degenerativas. Outro fator que é importante conhecer é que em muitos casos essas doenças degenerativas não são fatais ou fulminantes. Na maioria dos casos essas doenças tem alta morbidade. Isso significa perda de dependência. Isso significa necessidade de cuidadores para as atividades básicas do dia-a-dia. Portanto, não é um impacto apenas pessoal, mas é um impacto em toda a família e pessoas que poderão se voluntariar a cuidar de você. Quem tem infarto ao invés de morrer pode desenvolver uma fraqueza no coração - eu falei disso no episódio xxx. Isso pode significar falta de ar para mínimos esforços, precisar de ajuda para trajetos até dentro de casa.

No derrame cerebral talvez seja mais fácil de entender a perda de autonomia. Dependendo do local do cérebro acometido pela derrame, o paciente poderá perder a mobilidade de parte do corpo, por exemplo o movimento das pernas ou o movimento do braço dominante. Outra possibilidade é perder a capacidade de falar chamado de afasia. Isto levará a perda de sua autonomia e da independência e necessidade de depender de outros para desempenhar as atividades básicas da vida.

Entendo que ter informação é o pressuposto para tomar decisões de forma bem embasadas. Sabendo de todas essas consequências você pode fazer sua escolha de como querer levar sua vida. Agora se depois de toda essa conversa você chegar a conclusão que a mudança vai trazer benefícios e que os benefícios são maiores do que as inconveniências então você atravessou a fase da contemplação. Pode agora começar a partir para ação. Aqui vou fazer uma recomendaçao de um livro: é o Gatilhos de Sucesso de Marshall Goldsmith que trata esse assunto de mudança de comportamento adulto com a seriedade necessária. Mas este é assunto para outro episódio.

Este conteúdo tem objetivo de informar e não tem intenção de substituir a orientação médica em consulta, e não constituem julgamento clínico, diagnóstico ou tratamento. Sempre procure o seu médico sobre perguntas que você tenha sobre sua saúde e condição clínica.

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